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quarta-feira, 20 de abril de 2011

Mais para tsunami do que marolinha

Tragédia no Japão e seu impacto no mercado global reforçam alerta à imprevidência do  Brasil

A tragédia japonesa e os efeitos em cadeia gerados nos mercados no resto do mundo desnudam o elevado grau de instabilidade a que a economia global está sujeita. No caso brasileiro, reforçam os alertas quanto à imprevidência que marcou a gestão macroeconômica local nos últimos anos. Parece que estamos apoiados sobre fina camada de gelo.
Ontem, os mercados financeiros tiveram um dia de estresse. Mas não foram apenas negócios intangíveis com papéis que sofreram consequências do abalo japonês. Os ativos reais também começam a ser solapados. O ritmo ainda não inspira pânico, mas no mínimo cautela redobrada. O Brasil não é exceção em meio a este tsunami.
Sabemos todos que o vigor que a economia brasileira experimentou em anos recentes esteve ancorado no boom dos preços das nossas principais commodities no mercado internacional. Petróleo, minério de ferro, soja e café formam a base das nossas exportações. Todas viram suas cotações explodir de uns tempos para cá.
Mas, diante do atual cenário, que agrega o acidente geológico-nuclear japonês às instabilidades políticas no mundo árabe e à fragilidade de algumas economias europeias, já há quem fale em mudança radical de cenário, com baixas fortes e impacto recessivo global. Pode ser; torçamos para que não seja.
Fato é que, em apenas poucos dias, houve queda generalizada nos preços dos principais itens agrícolas – muitos dos quais têm o Brasil entre os maiores produtores globais – no mercado mundial. “Uma completa reversão de tendência pode estar a caminho”, arrisca o Valor Econômico.
Cálculos divulgados pelo jornal mostram que, em março, as cotações de soja já caíram 6,4%, as de milho, 14%, e as de trigo, 12%. Há redução de preços também de commodities minerais e metálicas: o do minério de ferro derreteu 15% em um mês. Tudo isso tem muito a ver com o Brasil.
Nos últimos anos, as autoridades brasileiras viveram inebriadas pelo sucesso econômico local. Pouco admitiam que muito dos nossos êxitos se devia ao empuxo global, que, sob o ponto de vista delas, só nos chegava em forma de “marolinhas” esporádicas.
Pior que isso, alterações drásticas no cenário global – como as que estão ocorrendo neste momento – nunca foram seriamente consideradas pelos petistas. Sempre prevaleceu um desaconselhável excesso de confiança. Vê-se agora que as ressacas nos batem forte e de imediato.
Nota-se quão os efeitos são imediatos, por exemplo, no recuo, anunciado ontem pelo Ministério da Fazenda, em relação à adoção de medidas destinadas a deter a valorização do real. Bastou um par de dias de estresse global mais agudo para o “pacote cambial”, prometido há bastante tempo, subir no telhado.
“A orientação do ministro Guido Mantega é aguardar o quadro internacional ficar mais claro para, então, tomar a decisão sobre o anúncio das medidas na área cambial, que chegou a ser planejado para a sexta-feira passada e foi adiado para esta semana. Agora, pode ficar para a próxima”, informa a Folha de S.Paulo.
A prudência, neste caso, é bem-vinda. Em situações de turbulência é melhor aguardar o horizonte desanuviar-se para seguir a viagem. Mas não deixa de ser ilustrativa da maneira hesitante com que a equipe econômica petista costuma mover-se. Parece faltar-lhe convicção.
Igual titubeio marca a implementação do ajuste fiscal – tão frágil quanto ainda incerto. A intenção de reduzir gastos do Orçamento foi anunciada em 9 de fevereiro; a divulgação do montante a ser limado veio 20 dias depois e, já passada mais uma quinzena, quase nada se sabe sobre como serão, de fato, feitos os cortes. Não basta só anunciar, tem que fazer.
Tais idas e vindas reiteram a ampla dependência da economia brasileira ao desempenho global. Não que isso seja uma surpresa ou uma grande descoberta. Nada mais é do que a regra do jogo num mundo fortemente integrado. A novidade está no fato de as autoridades petistas estarem admitindo isso. É melhor que, desta vez, o governo não confunda tsunami com marolinha.
Fonte: Instituto Teotônio Vilela – Carta de Formulação Política Nº 194

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